“Ela nasceu negra, pobre em um país que despreza os diferentes. Cresceu e foi ser Enfermeira em um país que desconhece a profissão e teima em não valorizá-la. Lutou contra o sistema discriminatório da vida universitária que insistiu em lhe dificultar a caminhada. Formou-se e foi cuidar de seus semelhantes na esperança vã de ser reconhecida como igual.Quis a vida, não satisfeita por tê-la premiado com tantas adversidades, pregar-lhe mais uma e lhe tirou inesperadamente alguém que era seu norte, seu apoio e, quem sabe, o único ser que lhe destinou amor além de ter-lhe dado a vida. E ela perdeu seu rumo e se refugiou na mente confusa, cansada de tantos revezes. E ela se mascarou para o mundo não perceber quem ali estava, ainda na esperança de ser acolhida, tratada como igual.O mundo não seria o mundo se tivesse resolvido ser solidário àquele ser humano por trás da máscara. O mundo seguiu seu ritmo e tornou aquele ser em uma caricatura. Nenhuma surpresa quando jovens e adultos transformaram o ser real em virtual. Criaram-se comunidades na rede mundial para celebrar a estupidez humana no trato com seus semelhantes. Chamaram-na de ‘Velha’ porque o mundo despreza os velhos. No desfile diário de seu desatino ela procurava o templo maior dos humanos na esperança de ser perdoada por não pertencer àquele mundo, por não professar a religião dos que no Shopping vão depositar as oferendas de suas existências vazias.Ontem ela resolveu dar o salto maior de sua pobre existência no caminho da libertação. Ela não queria morrer, o seu salto foi mais uma tentativa vã rumo à esperança de ser vista, de ser amada, de ser reconhecida como o ser humano que foi. Paira hoje nas nossas consciências e conseguiu que olhássemos para ela esmagada no asfalto negro onde, finalmente, tornou-se
IGUAL.
IGUAL.
(Autor desconhecido, possivelmente Antônio do DAA)
Hoje, um aceno.
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